terça-feira, 13 de setembro de 2016

Egocentrismo em Pontes


Havia garotos sentados na beira. Risonhos, célebres, descontraídos como folhas descansando em galhos. Sorriam-se e era noite; Mas à noite já acostumados. Não queriam nada, mas falavam entre si e misturavam palavras à toa. Ouve um tiro. Um deles engoliu o sorriso e a brincadeira virou sala de reunião. Compenetrados, esforçavam-se em atenções; batiam os pretos dos olhos uns nos outros, queimava os peitos. De repente a Noite tirou a máscara, era a atriz sem personagem, era a substância sem cápsula que dilacera a garganta seca. Não havia sequer um poste a menos, mas tudo parecia escuro demais para crer em caminhos seguros. Pra onde foi a Noite?
A Noite deu um tiro, sabiam, ninguém acertou. Os pivetes também não tem mais pé descalço e dente de leite. São homens malogrados, perderam a infância no olhar. Alimentaram suas estaturas cheirando ares pesados. Pegam um trem que balança parado. Escoram-se em bandos, em fileiras. São filhos de outro pai, enquanto os herdeiros reais passam de bolsa a tiracolo na Rua do Acre. A Noite não matou um sequer. Sobreviveram e fazem parte de seu pelotão circular agora.
Se um estilista os visse, o que diria? O quê de seu tem nas roupas que usa? Se um gravata os visse? E uma escovada, faria o quê? Rezam. Mas só rezam baixo, os rapazes não escutam do lado de fora da igreja... Ainda não perceberam isso. Pensam haver um interlocutor, alguém que leve recados. – “O invisível não pode ser roubado nem esfaqueado, melhor que ele vá no meu lugar!” – Devem pensar. Pedem pelos outros menos do que pra si. – “Que pena! Rapazes poderiam estar trabalhando. Misericórdia! Minha filha começou na faculdade, dê um bom emprego pra ela!”.
Onde estão as pontes que não escondem as mazelas do ser? Onde poderemos nós nos esconder diante das verdades que não enxergamos por que pedimos a Deus intermediar? Somos a mãe que não entra no necrotério para reconhecer o corpo do filho. Quantos viadutos precisarão para dormirmos quando percebermos nossa indigência? A prefeitura não está preparada para tamanho deslocamento. Então, ao que parece, fizemos acordo: Cada um constrói sua própria ponte, com portas, camas, geladeiras. Mas estamos debaixo da ponte, ainda não dormimos tão melhor que os moleques enfileirados atrás da banca de jornal. E sentimos o frio da alma no chão gelado. Bom, tomamos banho, isso nos diferencia. É uma boa tomarmos todo dia. Se ficarmos sem, já seremos iguais demais e aí nos confundiremos entre a ponte e a casa, o crack e o jornal da tv, o pai violento e o mendigo ébrio, o filho transgressor e o menor infrator, o suborno do guarda e o roubo da padaria.

Não podemos. Por isso usamos caros sabonetes e outras maquiagens.

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Por Que Somos Robôs



                Um dia descubro quem inventou a vida. Quem será que arquitetou afazeres tão desprazerosos e incômodos? De que livro vieram obrigações angustiantes? Como pode alguém viver sem pensar no que gosta? Que sentido tem em viver sem identificação, sem empatia pelo trabalho, sem hobbies ativos, sem vontade desinteressada? Sinceramente, estamos muito afastados de nós.
                A jornada humana é robótica. Pelo menos não para os hippies. Nem para alguns andarilhos de estradas. Músicos. Bem, há exceções. Toda essa insatisfação é minha e vem de uma negação da  tal realidade imposta. Nem todos percebem, nem todos se ferem como eu. Todo dia sangro. Acordo incrédulo, mesmo há tempos repetindo a rotina. Durmo pensando que não fiz nada que gosto. Sinto que não vivi. Como é isso pra você? Se eu perguntasse as coisas que você gosta de fazer, você me responderia rapidamente? E se eu perguntar se você realmente as faz? Você deveria se perguntar isso e responder, ou pelo menos tentar de vez em quando.
                Estou convencido de que a vida nos pasteuriza. E reafirmo isso, diariamente, para não deixar o nitrogênio me congelar de vez. Mas não adianta. A alma inquieta, corpo inerte. Há quem diga que gosta do que faz. Gosta mesmo? Se fosse rico acordaria cedo e analisaria um relatório de 400 linhas? Não sei viver sem amor. Ainda luto, embora aprisionado.
Dizem os conselheiros que eu posso me libertar, desde que me dedique. Vou ter que acordar ainda mais cedo, dormir mais tarde, alternar tarefas do trabalho com estudo, etc. Ora, isso é a máquina perfeita, é o suprassumo mecânico do ser humano. Temos mesmo de aceitar a vida. Talvez eu desista. Todos nós vivemos melhor se aceitarmos este fardo impiedoso. Já é um órgão e em breve tiraremos chapa dele e iremos ao doutor pedir – é claro – um paliativo. Paliativos são nossos hobbies. São atividades que tiram um pouco o peso e a dor do fardo. Até esquecemos. Essa é nossa diversão. Que bela vida!
Triste, não? Eu diria claustrofóbico. Se podemos escapar? Talvez. Temos a chave mas estamos doentes, cobertos por um ferro duro. Temos de nos tratar, de retirar o vício de viver roboticamente. Precisamos de médico, precisamos de cachoeiras e pássaros, precisamos transformar o paliativo em fluido vital, combustível para sair do mundo de Oz. Respire.

- Acabou nossa consulta por aqui. Te vejo semana que vem, às 20h30. Mês que vem aumenta o valor... Inflação, ok? Fique bem. Até!

terça-feira, 12 de abril de 2016

Caixa da Inspiração - Dois Minutos/Sentimento De Posse/Parabéns Pra Você


Dois Minutos à Sós - Pedrinho da Flor/Adalto Magalha
Sentimento De Posse - Adilson Bispo/Zé Roberto
Parabéns Pra Você - Mauro Diniz/Sereno/Ratinho

Mais uma Gravação do Caixa da Inspiração, captado no pagode da Dininha, em 2011.

Curtam!

Caixa da Inspiração - E era Copacabana (Carlos Lyra)


Mais uma gravação para quem gosta de música boa! Famosa nas gravações de Joyce e Emílio Santiago, apresentamos uma gravação intimista desta obra da bossa nova. Confiram! Enviem Sugestões!


E Era Copacabana

Noites febris
Tempos gentis
Eu já fui tão feliz
Mais do que eu quis
Mais que eu pude querer
E era Copacabana

Loucas paixões
Tantas canções
Eu já tive ilusões
Momentos bons
Hoje com meus botões
Penso que nada mais me engana

Foi num tempo em que era tudo demais
Tempos atrás
Quimera fugaz
Sonhos de paz e promessas banais
Mera fumaça que a vida desfaz
Igual a um puro havana

Caminhando pelas ruas assim
Dentro de mim
Nem penso ao que vim
Penso que a vida nem sempre é ruim
É só o enredo de um mau folhetim
A vida é simplesmente humana